O que pensar? Como agir?

É... muitos de nós, repórteres, devemos estar nos perguntado: "Como assim? Como um cinegrafista sai de casa para trabalhar, levar o melhor para seus telespectadores e não volta"?


Confesso que ontem levantei um pouco mais tarde. Meu namorado foi para o computador ler as notícias e me falou: "Cinegrafista da TV Bandeirantes foi morto durante operação do Bope, no Rio de Janeiro". Na hora a minha ficha não caiu. Arrumei o café. Parecia que estava tendo um pesadelo. Parecia que eu nem havia me levantado ainda. Então, no meio da tarde, resolvi entrar na internet. Acessei vários sites e em todos eu lia a notícia. Via fotos do cinegrafista enquanto trabalhava, li sobre seus prêmios e sobre o quanto amava o que fazia.


Hoje o assunto tomou conta das redações, dos sites de relacionamentos, das ruas. Todos me perguntando o que eu achava. E eu? Eu penso o que? Eu penso que se trata de um pai e avô de família que foi morto fazendo o que mais amava na vida. Porque só quem ama, se arrisca tanto.


Daí, passou um filme na minha cabeça. Lembrando-me das várias operações que cobri até hoje. Das várias favelas em que entrei. Pensei até nos filhos que quero ter um dia (se bem que nem sei se terei coragem para tanto). Pensei: "A gente acorda de madrugada, só chega em casa a noite, pra isso? Morrer assim? Não. Não é justo. Não é para morrer que a gente estuda tanto, rala tanto, ouve tanta coisa".


"A vida só dá uma safra" - fala do meu mestre Eduardo Costa (Apresentador do Chamada Geral). Mas o problema é que quando estamos na adrenalina do nosso dia-a-dia, a última coisa que a gente pensa é isso. E muitos vão se perguntar:  "De quem é culpa? Da polícia? Das empresas de comunicação? Dos profissionais de comunicação? Do sistema? De quem?" Na minha opinião a culpa é de quem apontou o fuzil e atirou.


Mas quem criou esses monstros? Esses criminosos que não tem nada a perder e saem matando. Desafiam o Estado, desafiam o ser humano, desafiam a vida, desafiam a Deus!


Pais de família perdem seus filhos para o tráfico. Filhos perdem seus pais. Trabalhadores são executados vítimas de latrocínio.


Quantos mais precisarão morrer para que tomemos uma atitude e imprimamos uma força tarefa para obrigar os legisladores a reformares esses Códigos (Penal e Processo Penal)? Não se esqueçam da juíza que foi executada. Eu não vou me esquecer do cinegrafista morto. Eu não vou me esquecer dos vários velórios de pessoas inocentes que fui cobrir. Apesar de tudo, ainda tenho esperança.


Nada mais, utilizo esse espaço para declarar minha solidariedade à família do colega e a todos que conviveram com ele.


"A vida só dá uma safra". Por isso vivo cada dia fazendo o que amo!